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quarta-feira, 30 de março de 2011

Conto - O Vazio de não tê-la mais ...

Conto de minha autoria publicado no livro "Erotismo na Literatura"

Era apenas um dia como qualquer outro em sua vida tão comum e rotineira. Apenas o vai e vem dos vagões de trens diferentes indo a diferentes lugares. Nada incomum realmente. Um apito mais forte e o trem começava a parar na estação de uma cidade qualquer em um lugar qualquer, perdido no tempo e no espaço.

Respirou fundo. Desceu do trem ainda em movimento. Olhou a sua volta. Se o mundo tinha um fim, com certeza era ali. Andou pela estreita rua observando cada detalhe. Era como se tivesse retornado no tempo. Casas velhas e abandonadas. Ruas empoeiradas. Pessoas esquecidas... Ele ainda não a esquecera.

Pegou o molho de chaves em seu bolso. Empurrou o pesado portão de ferro fundido e entrou. Tropeçou nos galhos que atravessavam o seu caminho e chegou à varanda tão empoeirada quanto a rua. Abriu a porta. O ranger ecoou aos quatro cantos. Virou-se repentinamente e observou que todos olhavam em sua direção. Deu com os ombros e entrou na casa. Os móveis já não existiam mais. A poeira e o esquecimento tomaram conta do lugar.

Ainda da porta olhou para a escada. Sentiu-se arrebatado no tempo. Seus pensamentos eram desconexos... Atormentados pelo sentimento de perda. Onde estaria ela? Fechou os olhos... Sentou-se no primeiro degrau... Começou a reviver aquele momento de sua vida e que agora estava perdido.

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Caroline estava linda, radiante, maravilhosa como sempre. Vestido preto, muito justo, sem costas. Deixava transparecer as perfeitas curvas de seu corpo miúdo. Uma escultura viva.
Aproximou-se dele. De onde estava era possível perceber o quanto era linda. E era só dele. Seu perfume marcante a preencher todo o lugar. Ele abraçou-a como nunca jamais tivera feito. Sentia seu pulsar como uma bomba dentro do peito e um calor que consumia todo o seu ser. Beijou-a. Beijou-a mais intensamente. Seus corpos interagindo. Ela sentia que ele a queria. Deixou-se envolver. Ele empurrou-a gentilmente até a parede junto à janela. Suas mãos percorrendo seus corpos e o suave roçar das pernas dele nas dela.

Beijou-a enlouquecidamente. Tomou-a nos braços e subiu aquelas mesmas escadas. Passos ecoando. Beijos envolvendo. Corpos se confundindo. Olhares se trocando. Uma porta se abrindo. Um grito. Tudo acontecera muito rápido para que pudesse ser entendido.

Aquele homem era muito mais forte. Corpos se batendo. Segundos e Caroline estava caída junto ao mesmo primeiro degrau. Um silêncio sepulcral tomou conta de todo aquele lugar. Aquele homem pegou-a nos braços e foi-se. Uma porta batendo. Sangue no chão. Eram sombras perdidas no tempo. Tal qual ele próprio.

Uma dor forte no peito o trouxe de volta ao presente. Olhou o chão. Não havia mais nada. Porém, ainda podia sentir o cheiro dela em suas mãos e o doce daquele beijo em sua boca. E o vazio de não tê-la mais. Levantou-se com dificuldade. Estava entorpecido pelas lembranças daquele amor perdido. E a certeza do nunca mais, tirava de si a vontade de viver. Caminhou passos arrastados pela sala. Uma dor forte no peito o fez encolher-se. Seguida de outra. Sentiu-se caindo no chão.

Um ranger de porta se abrindo o trouxe à realidade. Era ela! Não conseguia se mover. Era como se as dobras do tempo, de alguma maneira, a tivessem trazido de volta para si.
Ela se aproximou em passos miúdos como ela própria. Seu olhar tinha o mesmo brilho de antes e usava o mesmo perfume marcante. O tempo havia marcado seu rosto, porém fora incapaz de destruir sua beleza. Era ela. E viera só para ele.

Não soube por quanto tempo ficou conversando com Caroline. As palavras, as lembranças e a felicidade de estar com ela superou qualquer outra coisa que pudesse ter em mente naquele dia. Soube de tudo o que acontecera, sobre o marido que a arrastara daquele momento único em suas vidas. Porém, fora incapaz de arrancar de seu peito o amor que tinha por ele.
Horas passaram e a noite chegou. Caroline levantou-se, deu-lhe um suave beijo nos lábios, pegou sua mão e disse simplesmente "Venha".

Uma simples palavra que o fez retornar a juventude e sentir a imensidão de sua paixão jamais esquecida. Em um impulso, tomou-a nos braços, pode sentir novamente aquele perfume bem como suas lágrimas correndo por seu rosto. Como amava Caroline.

Depois, saíram de mãos dadas pela rua empoeirada, passando pelas casas abandonadas e seguindo para a estação de trem. E se perderam no tempo e no espaço.

E na casa... apenas restou um corpo no chão.

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