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quinta-feira, 24 de março de 2011

Conto - "O Espírito"

Conto de minha autoria e já escrevi um roteiro para curta-metragem deste conto.

Era realmente um dia sinistro. Algo no ar dava a uma sensação de peso no respirar. Amélia chegou em casa muito cansada. O caminho do trabalho para a casa fora muito estressante. Talvez pudesse dormir cedo.

Destrancou todas as fechaduras da porta - eram três ao todo - e, finalmente pôde entrar em seu apartamento recém-alugado. Tirou os sapatos. Entrou na sala. Tirou o relógio e as jóias, colocando sobre a prateleira da estante.

Por um instante, pôde vislumbrar um movimento no espelho. Acendeu as luzes da sala e viu a imagem de um homem muito bonito no espelho. Assustada olhou em volta. Não havia nínguem. Só a imagem no espelho!

Aquele homem sorriu e começou a andar em direção à imagem de Amélia refletida no espelho.
- Meu Deus! O que é isso?! - exclamou Amélia afastando-se da imagem do homem no espelho, o que parecia impossível, pois o espelho cobria toda a parede da sala.


O homem, louríssimo e muito bonito, continuou andando bem devagar e abraçou a imagem de Amélia no espelho. Amélia gritou e desmaiou.

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Quando acordou, ao levantar-se do chão, lá estava ele abraçado com ela. Atrás dela. Acariciando-a!
Amélia correu para o interruptor e desligou as luzes. Começou a chorar. O que seria aquilo?
Correu para o quarto e em todos os espelhos por onde passava, lá estava ele sorrindo. Parecia estar em toda a casa e abraçava ela.

Amélia entrou no quarto, pegou todos os lençóis que pôde e começou a cobrir os espelhos enquanto apagava as luzes da casa. Depois ligou para uma amiga.
- Alô? - perguntou Lúcia ao atender.
- Lúcia, é você? - disse Amélia.
- Oi, querida. O que foi? Esqueceu alguma coisa no escritório? - disse Lúcia.
- Eu... Eu não sei nem como contar... - disse Amélia chorando.
- Você está me assustando. O que foi?
- Entrei em casa e ....  ví um homem no espelho... depois ele entrou em mim... - completou Amélia.
- O quê?!! Ele atacou você? Bateu em você? - perguntou Lúcia espantada.
- Ele é um espírito... - respondeu Amélia com a voz cortada por soluços.
- Você está bem Amélia? Que história é essa de espírito?
- Ele aparece nos espelhos, em todos os espelhos, Meu Deus! Não sei o que fazer. Estou no escuro. Ele é um homem bonito e está me abrançando... Parece loucura, mas é verdade. Não sei o que fazer, estou desesperada! - explicou Amélia.
- Calma, querida. Você quer ficar aqui em casa  hoje?
- Não, ele pode pegar você também - disse Amélia.

Uma curta pausa.
- Bem, eu conheço uma vidente muito boa, que também joga carta. Marca uma hora com ela e escuta o que ela tem a dizer sobre isso. Você quer o número? - disse Lúcia finalmente.
- Claro, faço qualquer coisa...
- Certo. Um momento (barulho de folhas virando). Este é o número, o nome dela é Dona Marta.
- Obrigada, querida. Vou marcar agora uma hora com ela, senão enlouqueço! - exclamou Amélia um pouco aliviada.
- Calma. Não vá fazer nenhuma besteira. Lembre-se, se ele realmente está aí, está morto e você está viva. Ok? Qualquer coisa liga, eu estarei em casa. Um beijo.
- Obrigado. Um beijo - despediu-se Amélia.

Amélia imediatamente ligou para a vidente marcando uma hora logo pela manhã.
................

A sala tinha um cheiro forte de môfo. Talvez fosse o carpete. Amélia não gostava de tapetes. Eles costumavam reter muita sujeira. E sujeira provoca muita doença. Mas era necessário que estivesse ali. Talvez aquela mulher pudesse resolver o problema com o espírito.
- Srta. Amélia, por favor, entre - disse a vidente assim que abriu a porta.

Na sala havia uma mesa redonda, coberta com uma toalha vermelha. A vidente era mal-vestida.  E havia um espelho atrás da cadeira onde Amélia ia sentar. Amélia não queria ver o espelho.
- Sente-se, por favor - pediu a vidente.

Amélia sentou-se um pouco relutante, mas era necessário. A vidente começou a embaralhar as cartas, dividiu-as em três pequenos montes e as enfileirou sobre a mesa. Leu o primeiro monte, era o passado de Amélia. Incrível, ela acertou quase tudo! Amélia permanecia calada, apenas ouvindo.
- Existe uma presença em seu presente. Algo há muito perdido, alguém em busca de outro alguém - disse a vidente olhando para as cartas e para o rosto de Amélia.
- O que eu faço para me livrar dele? - perguntou Amélia.
- Você deve seguir os seguintes passos. Primeiro, tome um banho com creolina, a lata toda, da cabeça aos pés... - foi interrompida por Amélia.
- Creolina?! Isso vai me matar e não ao espírito ! - exclamou perplexa Amélia.
- Você quer realmente que ele vá embora? - perguntou seriamente a vidente.
- Claro, continue. Banho de creolina...
- Depois, acenda uma vela de sete dias  e fique sem dormir por 24 horas. Na noite do segundo dia, ele terá ido embora. São cento e cinquenta reais - completou a vidente.

Amélia pagou e saiu. Ainda pôde ver aquele homem rindo dela no espelho. Iria cumprir o que a vidente falara. Custasse o que custasse. Passou no supermercado, comprou a creolina da melhor marca e a vela. Depois passou em uma farmácia e comprou um estimulante, afinal, ficar vinte e quatro horas sem dormir seria uma barra. E finalmente foi para casa.
Entrou em seu apartamento, seguindo todo o ritual que costumava fazer. As fechaduras, os sapatos, o relógio e as jóias. Porém não acendeu as luzes. E foi tomar banho.
Foram quase seis horas de banho para usar toda a lata de creolina. Vestiu o roupão e foi para seu quarto. Aquelas vinte e quatro horas pareceram uma eternidade. Leu, estudou, usou o microcomputador, jogou videogame e assistiu televisão. Finalmente chegou o final daquele ritual macabro.
Saiu do quarto por volta das oito horas da noite e foi até a sala. Acendeu as luzes e tirou o lençol que cobria parte do espelho. Olhou, não viu aquele homem. Tirou a outra metade do lençol e lá estava ele, sentado no sofá rindo para ela.

Novamente começou a andar em direção à Amélia. E a abraçou. Amélia estava em choque, tentou correr até a varanda, e se apoiou no peitoril. Parou por um momento, tinha que acabar com aquilo. Subiu no peitoril, ainda pôde ver aquele homem olhando para ela no espelho. Soltou as mãos. Perdeu-se no vazio. Depois só o silêncio. Amélia estava morta.
..............
A detetive responsável pelo caso chegou ao apartamento de Amélia por volta de nove horas da noite. Não havia muito o que fazer. Talvez aquela mulher estivesse louca. Havia indícios disso por toda a parte. Espelhos cobertos, creolina no corpo e no banheiro, vela e outras coisas mais. Era um caso de fácil solução. Dispensou os guardas e os peritos. Ficou sozinha.


Olhou para o espelho. Havia um homem, muito bonito, sorria para ela....

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